O que aprender na Escola dos Pobres?

Sabedoria de que tem nada e tudo ao mesmo tempo

Desde o início da Aliança de Misericórdia buscamos fundamentar nossa vida de acordo com o Evangelho. Guiados por seus ensinamentos, o exemplo de Jesus, de Maria e pelas inspirações do Espírito Santo, tentamos levar a todos a experiência de amor que o próprio Deus nos ensina.

No livro de Isaías encontramos uma Palavra que pra nós é evocativa: “O Espírito do Senhor esta sobre mim, porque Ele me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres”… (Is 61,1).

Assim como o profeta, sentimos que essa é também nossa missão: levar a boa nova a todos àqueles que precisam da misericórdia de Deus, seja aos pobres materialmente, seja aqueles que se descobrem pobres de Deus.

São tantas as pessoas que sofrem e que são abandonadas. São tantos os presos, os jovens que vivem nos vícios das drogas, da prostituição. São tantas as crianças, mulheres e idosos, vítimas da violência e do descaso da sociedade. São tantas as realidades de miséria, fome e negligência. São tantas as realidades de solidão.

Uma luz na escuridão

Realidades duras e frias das quais todos os dias nos deparamos, mas também, permeadas de surpresas e aprendizados. Percebemos que assim como nos pântanos são encontrados belos lírios, nessas realidades também encontramos boas pessoas, belas histórias e grandes lições de vida.

Missionária ao lado de moradora da favela do Moinho.

Encontramos pessoas que teriam vários motivos para se queixar de seu sofrimento, mas que nos surpreendem ao serem pessoas de esperança, luz em meio à escuridão.

Diante disso, percebemos que os pobres têm muito mais a nos ensinar do que nós a eles. O próprio Jesus nos declara isso ao dizer que aos pequeninos são revelados os mistérios do Reino de Deus (Lc 10,21).

Com eles aprendemos o despojamento, a vivência da liberdade interior, a nos alegrar com o pouco, a partilhar, a agradecer, pedir perdão e recomeçar sempre.

O Pobre, nosso mestre

E por nos ensinar tanto, consideramos os pobres nossos “mestres”, professores da vida que nos ensinam a sorrir e a viver a alegria de cada dia. A ver o mundo com o olhar mais atento, a demorar o olhar nas coisas belas e simples, perceber que um segundo pode se tornar uma eternidade e que uma eternidade pode se tornar um segundo.

E como não exultar ao perceber que o próprio Jesus escolheu vir aos mais pobres e se tornar mais pobre ainda que todos, vindo a esse mundo na condição de criança, nascendo numa simples gruta, sem casa, sem conforto e com toda sua fragilidade se entregar aos cuidados de pessoas simples.

Numa noite escura de Belém, nasce um menino que vem iluminar a escuridão de muitos e se faz pequeno chegando ao gesto extremo e misterioso de se tornar pão.

Quando fazemos evangelização nas ruas, geralmente não levamos nada. Apenas nos aproximamos dos irmãos e começamos a conversar. Procuramos dar atenção, ouvir, conhecer a história deles, e, muitas vezes, por esse simples gesto, somos surpreendidos pela partilha do papelão, da comida, da água.

A graça de ser simples

Notamos que eles não guardam o que tem, mas partilham. A maioria dos que estão nessa realidade sabem o quanto é difícil encontrar ajuda e por isso se fazem ajuda, se fazem irmãos. Dos encontros, gera-se a amizade, o carinho, a proteção.

Com eles aprendemos há apreciar o dia, a chuva e a noite. Com eles aprendemos a apreciar o pão, a água, o valor do alimento; a dançar e a não se importar tanto com o que os outros pensam, mas viver, e parar, quando necessário, para direcionar o caminho. Sabedoria de que tem tudo e nada ao mesmo tempo.

Que como Jesus, tenhamos nós também esse olhar atento aos pequenos, tendo no coração a certeza de que perante Deus somos todos filhos, iguais, dignos do mesmo salário e todos dependentes de sua misericórdia.

Mary de Calcutá
vice-presidente do Movimento Aliança de Misericórdia

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