“Senhor, é vossa face que eu procuro;” (Sl 27,8b)

O amor de Deus é infinito e eu tenho a graça de podê-lo testemunhar, pois o contemplo cotidianamente olhando Sua obra em situações simples, em pessoas simples, em lugares esquecidos… e é algo que inflama e muda meu coração!

Contemplo Deus todas as vezes em que, com os irmãos da Comunidade, encontramos, nas esquinas de São Paulo, uma garota de programa ou um travesti. Em meio às lágrimas, eles nos contam que, naquele mesmo dia, haviam pedido um sinal do amor de Deus e, pelo nosso abraço e oração, reviveram esse amor que, em algum momento do passado, foi muito presente em suas vidas.

Contemplo Deus e seu amor quando nos deparamos com alguém à beira do desespero, prestes a desistir de sua própria vida que, ao ser aproximado, sorri aliviado e exclama: “Deus ainda me ama, Ele não se esqueceu de mim!”.

“Senhor, é vossa face que eu procuro;” (Sl 27,8b)

É real sua presença quando, passando por uma necessidade de alimentos em alguma de nossas evangelizações, vemos Deus multiplicar o pouco que temos.

Em todos esses momentos, percebo com facilidade a presença de Deus e quanto é necessário contemplá-Lo em meio às nossas ações, principalmente quando elas não são tão aparentes e exigem forjarmos este valor, essa presença, dentro de nós.

E quando falo de valores, de amor, de acolhida, de respeito, de justiça… não estou apenas discutindo sobre princípios morais, estou falando de uma vivência profunda, de ter em nós esses valores tão intrínsecos, a ponto de se tornarem a bússola de nossas vidas. Isso transcende a mera compreensão do que é certo ou errado, é uma contemplação do que Deus quer de nós como evangelizadores. Assim, desejo enfatizar um valor fundamental, que todos nós somos chamados a viver: a contemplação em ação. Todos nós, sem distinção, devemos nos tornar “contemplativos em ação”.

Contemplar é como ascender à uma montanha espiritual, de onde podemos enxergar além do horizonte, é um ato que vai além da visão. Contemplar é perceber os movimentos de Deus que nos fala continuamente para onde devemos seguir. É reconhecer a presença de Deus em tudo ao nosso redor. “Pois desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido claramente vistos, compreendidos por meio das coisas criadas” (Rm 1,20).

Contemplar é sentir Deus agindo em nossa vida e na vida dos irmãos, percebendo que estamos todos imersos na Divina Presença.

“Senhor, é vossa face que eu procuro;” (Sl 27,8b)

Às vezes, nos vemos em situações aparentemente sem saída, mas, inesperadamente, as soluções surgem. Outras vezes, as portas se fecham, e então novas e melhores se abrem. Esses são sinais de Deus, indicando-nos caminhos e nos chamando a confiar n’Ele: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas” (Pr 3,5-6). Quando agimos com este olhar, nossas ações se transformam em experiência de Deus, sejam elas tarefas do dia a dia, na jornada de trabalho, até mesmo as burocráticas e cansativas, nos momentos de lazer e descanso. E assim, aprendemos a ver a ação de Deus não somente no pobre, mas em cada irmão, em todo coração ferido, em cada situação; é um mover de Deus que nos convida a abraçá-lo e a sermos canais de seu amor, de Sua Presença.

Quando nosso coração é puro, passamos não só a escolher fazer o bem, mas a desejar fazer o bem que Deus quer. Mas somente quem vive a contemplação no cotidiano pode saber profundamente a diferença entre uma coisa e outra.

“Senhor, é vossa face que eu procuro;” (Sl 27,8b)

Para vivenciar plenamente a contemplação é essencial buscarmos Deus constantemente. De fato, como podemos reconhecer Sua presença sem O conhecer? Sem conversarmos com Ele? Sem gastar tempo ao seu lado? O risco é reduzir nossa vida a uma série de tarefas sem qualquer significado espiritual.

Uma das coisas mais bonitas que a contemplação nos permite é deixar que Deus guie nossos passos e, consequentemente, que nossas ações se transformem em experiências com Ele.

Lembremos que o mundo tenta nos distrair, nos afastar da contemplação, mas não devemos ceder. Sejamos pessoas que contemplam antes de agir, e os nossos passos se transformarão em verdadeiros encontros com o Eterno. Assim, todos nós realizaremos o bem que Ele quer e sonhou para nós como Aliança de Misericórdia.

Enfim, seremos o “Sonho de Deus”!

Que Deus abençoe a todos!

Pe. Isaac Madureira

Proposta para a vivência da Palavra do Mês:

1. Partilhe com seus irmãos de Fraternidade, Grupo da Comunidade de Aliança ou de Amigos Missionários: como você tem contemplado a ação de Deus em sua vida? O que Ele o tem sinalizado ou confirmado?
2. Partilhe o que você tem percebido como sinal de Deus para sua Fraternidade ou Grupo;
3. Procure ao longo deste mês contemplar os sinais de Deus para o Movimento e para sua vida. Anote e depois partilhe, para que, da unidade com outros irmãos, possa vir a confirmação dos passos a serem dados.